1. A Bíblia. Desde criança, pela formação no seio da comunidade judaica, tive contato com as narrativas bíblicas (antigo testamento), inicialmente através de relato oral de meus avôs, imigrantes da Europa Oriental. Ainda na primeira infância, ao ser alfabetizado, pude apreciar as mesmas narrativas em adaptações para crianças com farta ilustração. São histórias que me encantavam, algumas com semelhanças com as 1001 noites, que povoavam minha imaginação, e que motivavam minhas primeiras preocupações metafísicas – passei parte de minha infância assustado e maravilhado com o vazio que pré-existiu a criação. Aos 13 anos, por ocasião de meu Barmitzvá – ritual de passagem para a idade adulta no judaísmo – ganhei de presente uma edição brasileira da Torá (Pentateuco), A Lei de Moises, que tenho ao meu lado até hoje, repleta de anotações às margens, e que utilizo semanalmente em minhas prédicas na Sinagoga do Clube ‘A Hebraica’. Já se escreveu que a Bíblia judaica é uma ‘Obra Aberta’, no sentido de Umberto Eco; sem dúvida um texto que há milênios se re-interpreta e mantém vivo.
2. Coleção Sítio do Pica Pau Amarelo de Monteiro Lobato. Meu pai tinha o maravilhoso hábito de comprar livros em Coleções (recordo-me das obras completas de Machado de Assis, Lima Barreto, Jorge Amado, Tesouro da Juventude, Barsa, entre outras), todas expostas no hall-biblioteca entre nossos quartos, cada uma de cor própria, com lindas encadernações, que me atraiam demasiadamente. Mas sem dúvida foi a coleção de Monteiro Lobato, lindamente ilustrada, que decididamente marcou minha infância literária, como creio acontecer com a maior parte de minha geração.
3. Obras Completas de Fernando Pessoa. Saindo da adolescência, descobri na Livraria Carlitos, as edições primorosas da Nova Aguilar, com obras completas de muitos escritores consagrados, com capas trabalhadas e papel bíblia. Passei a colecionar... E desde então o volume dedicado a Fernando Pessoa passou a ser por décadas meu livro de cabeceira, e a poesia metafísica de Álvaro de Campos, minhas páginas prediletas.
4. 2001 Odisséia no espaço de Arthur C. Clarke. Numa livraria humilde do menor município de São Paulo (Águas de São Pedro) achei um pocket que muito me marcaria – e que saudades do tempo que o interior de São Paulo ainda oferecia surpresas literárias a leitores. Além de me fazer pensar profundamente sobre o futuro da civilização, descobri a superioridade do suporte livro frente ao suporte cinema. Havia já assistido maravilhado dezenas de vezes o filme, desde seu lançamento na tela Cinerama da Rua Augusta. Mas descobri que a experiência da leitura de 2001 superava o filme. E como!
5. Pensando a Física de Mario Schenberg. Nos anos oitenta, conheci o grande cientista-filósofo brasileiro Mario Schenberg. E, imediatamente, percebi também que Schenberg estava ficando doente e com a idade avançada, e que apenas suas contribuições tecno-científicas estavam registradas. Suas profundas reflexões sobre a Filosofia e a História da Ciência apareciam apenas em isoladas entrevistas e rascunhos de palestras e conferências do Mestre. Com um gravador em punho passei alguns anos registrando novas entrevistas, palestras e cursos de Schenberg. O resultado foi a edição de vários livros – com minha entrada pessoal no mercado editorial – e o primeiro e talvez mais completo e conhecido, seja o Pensando a Física, que hoje adoto nos cursos de pós-graduação em história da física que leciono na PUC-SP.
6. A Comédia Humana de Honoré de Balzac. Balzac maravilhou-me nos anos de faculdade. Descobri o quanto a ficção pode nos ensinar sobre a realidade social de um período histórico. Mergulhei de cabeça em linda primeira edição comentada e com primorosa encadernação, que encontrei garimpando sebo de São Paulo.
7. Ficções de Jorge L. Borges. Numa rodoviária pelo interior da Bahia, buscava novas leituras, envolvido nos idos 70 com a ficção científica. Por acaso achei uma edição de até então desconhecido para mim, Jorge L. Borges, com tarja de livro premiado... E arrisquei. Não era ficção científica! Mas iniciei-me na obra do mago argentino. Que saudável surpresa e traria na seqüência longos anos curtindo os contos de Borges.
8. Mundo, Magia, Memoria com textos selecionados e comentados de Giordano Bruno. Então estudante de Física, já acalentava uma queda pelos estudos da história e filosofia da ciência. O encontro com o diversificado e complexo pensamento de Bruno influenciou em muito meu direcionamento para pesquisar as influências da hermética nas origens da ciência moderna. Um livro que orientou o direcionamento de meus estudos.
9. O menino do pijama listrado de John Boyne. Leitura mais recente, uma perola juvenil para todas as idades, ensinando que o tema do holocausto ocorrido durante a segunda guerra mundial não será esgotado. Trabalhando atualmente em políticas de incentivo à leitura, tornou-se obra obrigatória em bibliografias para jovens iniciarem-se na arte e desenvolverem uma cultura de tolerância.
10. Guerra e Paz de Leon Tolstoy. Minha entrada para a literatura russa. Como em Balzac, descobri em Tolstoy a beleza e riqueza da literatura a nos aproximar dos contextos históricos. Férias acadêmicas passaram então a conviver com livros grossos, mas que me magnetizavam. Pude entender a idéia do apogeu da literatura como arte no século XIX, antes do advento do rádio, fotografia, TV e outros suportes.
Matemática 36: Vídeos e Postagens
Há 5 meses
Adorei essa idéia. Vou parar para fazer isso qualquer dia desses.
ResponderExcluirJá sei por qual irei começar: "Clarissa" de Érico Veríssimo... Terei que citar "O Pequeno Príncipe" e também "Dom Casmurro" e seu eterno indissolúvel mistério... "Como um romance", de Daniel Pennac, que não deixou só marcas, mas criou raízes...
Pensar bem nos outros seis.. Terei que me prender às marcas... Mas farei essa retrospectiva.
Parabéns!
Que ideía ótima. Também vou colocar no meu blog. No meu caso, comecei bem mais velha a acompanhar o mundo maravilhoso da literatura.
ResponderExcluirO primeiro livro que li foi da coleção Vaga-lume, "Um cadavér ouve rádio" do Marcos Rey. Quem já não leu um dos livro dessa coleção?
Definitivamente nunca é tarde para começar a ler e apreciar.
Um beijo e sucesso!